O profissional filmou com o celular da empresa uma abordagem policial que considerou truculenta
Vitória – O repórter do jornal Metro Vinícius Arruda foi detido por volta das 10h30 desta segunda-feira (10) acusado de desobediência. Ele seguia de carro para uma coletiva de imprensa quando flagrou dois policiais militares fazendo uma abordagem a dois homens suspeitos de assediar uma mulher em um ônibus, em Jardim da Penha.
Segundo o advogado de Vinícius, Aloísio Faria, ao ver a abordagem truculenta da polícia aos dois acusados, Vinícius começou a filmar com o celular da empresa. Insatisfeitos, os dois militares pediram a identificação de Vinícius e exigiram que ele entregasse o celular, ameaçando prendê-lo.
O repórter se identificou e entregou o aparelho, mas mesmo assim foi conduzido pelos militares ao DPJ de Vitória, inicialmente na condição de testemunha.
Na delegacia, após a chegada do advogado, eles foram informados que Vinícius estava detido sob acusação de desobediência. Ele foi levado para a sala de custódia e ainda não foi ouvido.
Os policiais que fizeram a prisão do repórter não quiseram falar com a imprensa. Em depoimento, um deles afirmou que o repórter atrapalhou a ação da polícia e que o celular só foi apreendido pois nele havia imagens que mostram que a abordagem policial não foi truculenta. Ele não soube afirmar, no entanto, qual foi a ordem que Vinícius desobedeceu.
Segundo o advogado Rodrigo Horta, que representa o jornal Metro, não há indício de ilegalidade na conduta do repórter. “Não ha ilegalidade em filmar algo em via pública, qualquer um pode filmar em via pública. Abordagem truculenta é para ser filmada, divulgada na imprensa e enviada à corregedoria para ser apurada”, afirmou.
GOVERNO DO ESTADO SE MANIFESTA
O Governo do Estado repudia qualquer ação intimidatória contra jornalistas no exercício da função, preza pela liberdade de expressão e reconhece o trabalho dos jornalistas como essencial na construção da democracia. A Polícia Civil está acompanhando o caso, a Secretaria de Estado de Comunicação também. Ambos estão em diálogo com o Sindicado dos Jornalistas do Espírito Santo e o jornalista Vinícius para que os fatos sejam apurados.
SINDICATO E FEDERAÇÃO DOS JORNALISTAS EMITEM NOTA DE REPÚDIO
Veja nota na íntegra:
Sindijornalistas e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) repudiam veementemente a ação da PM do ES em prender um repórter do jornal Metro que flagrou uma ação violenta de policiais durante abordagem ocorrida nesta segunda-feira. O Sindijornalistas e a Fenaj estão perplexos com mais uma atitude intimidatória de agentes públicos do Estado que nada mais são do que um atentado à Liberdade de Imprensa e ao direito do profissional exercer sua profissão. Além do mais, destacam a falta de compromisso do secretário de Segurança Pública, André Garcia, que em reunião com a direção do Sindicato dos Jornalistas afirmou categoricamente, em 2013, que sempre respeitaria jornalistas que se identificassem ao filmar qualquer ação policial em vias públicas, como foi o caso.
Esperamos que o governo do Estado reveja esta posição autoritária e descabida das forças de segurança do Espírito Santo, que, ao invés de investir contra trabalhadores, garanta a segurança para todos os capixabas.
O Espírito Santo continua ocupando altas posições no ranking de homicídios e assaltos ocorridos no país, bem como, há 10 anos está entre os primeiros lugares em violência.
O Sindijornalistas está acompanhando o caso e denunciará mais esta violação à liberdade de imprensa no ES aos organismos institucionais competentes.
OAB-ES SE MANIFESTA
A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Espírito Santo (OAB-ES), presta integral solidariedade ao jornalista Vinicius Arruda, vítima de ato arbitrário por parte de Policiais Militares quando, movido pelo cumprimento de seu dever profissional, filmou a ação de PMs que abordavam pessoas na rua. Espera a OAB-ES que este mais recente ato de violência contra a imprensa não fique impune, devendo os autores do atentado à liberdade, respeitados sempre o contraditório e a ampla defesa, ser punidos na medida de sua responsabilidade.