03 de abril de 2020 – Quarentena muda consumo das famílias no Brasil e um levantamento da Kantar mostra como os brasileiros têm se comportado desde fevereiro, quando o primeiro caso de Covid-19 foi registrado no País. As medidas de contenção da pandemia Covid-19 e a recomendação de quarentena estão gerando mudanças nos hábitos de consumo e compra.
A 2º Edição do Termômetro de Consumo da Kantar aponta que 78% dos brasileiros buscam sair de casa somente para o necessário, além de estar mais preocupados com a saúde. Por exemplo, em janeiro e fevereiro, em comparação com o mesmo período do ano anterior, 784.000 lares a mais compraram analgésicos.
330.000 passaram a comprar vitaminas, especialmente a C, e 224.000 lares se tornaram compradores de antigripais. Além disso, 27% dos brasileiros alegam buscar alimentos saudáveis e 22% buscam por produtos de limpeza. Neste cenário, novas formas de consumo surgem e deliveries de supermercados se tornam uma escolha para 7% da população.
Despensa cheia
Os brasileiros se preocupam em manter a despensa cheia e isso já se reflete no desempenho das categorias de consumo massivo. Há um ano a cesta FMCG crescia apenas 1% em valor e ficava negativa em unidades compradas (-5%), mas neste começo de ano cresceu 8% em valor e 4% em unidades, sendo o abastecimento responsável por mais de 50% dos gastos.
Em relação aos canais, os atacarejos seguem ganhando novos lares compradores (mais de 2,2 milhões), bem como os hipermercados, que ganharam mais de 560 mil novos clientes. Categorias de despensa são as que mais crescem no atacarejo, como pão industrializado, salgadinho, biscoito, refrigerante e leite UHT.
Ele é o principal canal de abastecimento, atingindo quase 75% de importância para esse tipo de compra, o que representa quase 20 categorias. Já no hipermercado, as compras são menores e para reposição para o dia a dia, como maionese, multiuso, café, detergente e presuntaria, além de um número menor de categorias compradas, apenas 11.
Outra mudança importante é o aumento do home office: 23% dos brasileiros já dizem estar trabalhando remotamente e essa ação traz consequências em hábitos já muito estabelecidos, como os de cuidado pessoal. Se mensurarmos os impactos, mais de um bilhão de chances de venda estão em risco, já que 21% delas são voltadas para o ato de se arrumar para trabalhar ou ir à escola e 4% para o ato de sair e socializar.
Por exemplo, nos Estados Unidos, a maquiagem enfrenta potencial de perda nas ocasiões de uso devido aos diferentes hábitos de quem trabalha dentro e fora de casa. Só lá, podem ser 402 milhões de chances de venda a menos. Além disso, outros costumes, como lavar o rosto e os cabelos, poderão sofrer algumas mudanças. Na China, por exemplo, a hashtag #NoHairWash tornou-se popular.
Gêneros compram diferente
Na divisão por gênero, as diferenças são ainda mais relevantes, onde 15 categorias voltadas para mulheres têm potencial para ser impactadas, como sabonetes líquidos e em barra, maquiagens e removedores, cremes dentais, hidratantes faciais e corporais, depiladores e lâminas, desodorantes, fragrâncias e demais produtos para estilização, cuidado íntimo e banho.
Já entre os homens, somente 7 categorias devem perder ocasiões de uso: xampus, produtos para banho, creme dental, ferramentas para estilização, fio dental, fragrância e antisséptico bucal. “As mudanças nos hábitos em relação à barba tendem a ser importantes, considerando que 32% dos homens afirmam se barbear estritamente por motivos profissionais”.
“O consumo de desodorantes também está em risco, considerando que 40% de suas ocasiões de consumo no Brasil são relacionadas a se preparar para trabalhar ou ir à escola”, analisa Elen Wedemann, Managing Director Brasil da Kantar.
A pesquisa da Kantar na China sinaliza também outras mudanças em relação aos hábitos pós-crise. Entre as categorias que devem ser diminuídas ou cortadas estão as de luxo e entretenimento online. Já eletrônicos, utensílios domésticos, equipamentos para ginástica em casa, bebidas alcoólicas e cosméticos medicinais devem permanecer ou terem impacto limitado.
As despesas que podem aumentar são as com prevenção contra epidemias, vestuário, cosméticos, remédios, alimentos, bebidas, ginástica, salões de beleza, limpeza doméstica, seguros de vida e médicos, suplementos nutricionais, cuidados pessoais, refeições e entretenimento fora de casa, turismo e ações ou gestão de patrimônio.