Ele acordou desesperado na sala de terapia. Estava meio bêbado meio lúcido. Havia um som ao fundo cantando ‘Sobre todas as coisas’ que não eram coisas em si, e sim plantações metafísicas. Mas, ele bem sabia que metafísica não podia ser plantada. O paradoxo dos paradigmas dos loucos. Todas as coisas: confessadas, ditas, diagnosticadas, geridas, gestadas, assassinadas, perdoadas, enterradas. Todas as coisas naquela sala.
A sessão não tinha muito sentido, segundo ele. O analista era uma mistura de Freud gago com um Skinner alucinado, sabe lá Deus o que isso significa, e continuou:
– Acordei com um gosto de fome nos lábios. Não tinha nada. Acordei com uma saudade do nada que tinha na minha casa. Acordei como se tivesse dormido as noites de insônia. Acordei desesperado com todas as contas pagas. Acordei na cama do misterioso tão desejado. Mas não acordei melado. Juro. Acordei num voo sem destino. Acordei vitorioso da loteria. Acordei depois de ter votado.
Sentenças coesas e um olhar intrépido diziam de si para si mesmo enquanto seu cigarro incendiava-se. Reafirmava insistentemente o gosto pela terapia e a simpatia dos analistas que o acompanhavam.
Foi a primeira vez que eu fora chamado de analista, só me chamavam de Zé do Boteco e quando não de “traz mais uma gelada”. Não sabia o que fazer com aquele moço que não queria sair da mesa do bar pirraçando pela décima terceira saideira – que virou choradeira – e toda vez que eu dizia não ele falava que estava acordando.
Era mais que madrugada e ele cantando filosofia pelo fim de noite.
Se beber Whisky, Vinho ou catuaba procure o divã de casa.
Boa noite, Bar Fechado!
Pablo Castro