A divulgação de uma suposta “rede de políticos” que teria incentivado o movimento da Polícia Militar no Espírito Santo, ligada ao presidenciável Jair Bolosonaro (PSC-RJ) e que incluiria o deputado federal Carlos Manato (SD), ajuda a desviar o foco da discussão. A investigação da Polícia Federal sobre o caso, divulgada no sábado (25) pelo jornal O Estado de São Paulo, politiza a discussão em um caminho bem distante do Palácio Anchieta, o que acaba ajudando a diminuir o desgaste do governo sobre o assunto.
A divulgação da investigação acontece quase paralelamente ao acordo entre o governo do Estado e as mulheres dos Policiais Militares, que protagonizaram um movimento de 22 dias à frente dos quartéis da Polícia Militar no Espírito Santo. A partir da investigação, o foco deixa de ser a consequência do severo ajuste fiscal do governo Paulo Hartung (PMDB), que provocou um arrocho salarial no funcionalismo público do Estado, para se voltar a uma trama nacional, envolvendo um presidenciável e um deputado federal do Estado.
Com a mudança de foco, o movimento deixa de ser reivindicatório e passa a ser político e os elementos conspiram contra Manato. Foi o deputado quem apresentou na Câmara, o projeto de lei que propunha anistia aos policiais militares que participaram do movimento. Além disso, o deputado é ligado ao Capitão Assumção, apontado como um dos incentivadores do movimento e teve uma assessora identificada como agitadora nas redes sociais em favor da ação.
A relação entre Manato e o governo pode não ficar boa para 2018, mas neste momento, o fato de o deputado ter atraído os holofotes para longe do Palácio Anchieta é um movimento favorável ao governo. Depois do acordo firmado entre membros da equipe de Hartung e as mulheres dos PMs, a expectativa seria em relação aos próximos passos desse acordo e a punição dos envolvimentos da greve, mas ao politizar o debate, por outro viés, essas discussões perdem o foco de atenção.
Na Assembleia, o SD de Manato tem dois deputados: Raquel Lessa e Amaro Neto. Os dois parlamentares são lideranças ligadas ao Palácio Anchieta e que estão bem longe de sofrerem qualquer repercussão negativa na relação com o governador Paulo Hartung.
Raquel conseguiu o cargo de primeira secretária da Mesa Diretora não só com o aval, como também com o incentivo do governador. Amaro Neto acabou de indicar o vereador Max Da Mata (PDT) para a Secretaria de Estado do Esporte, o que mostra seu prestígio político com o governo.
Quanto a Manato, o deputado sempre teve muita dificuldade em conquistar suas eleições desde que rompeu a aliança como deputado federal Sérgio Vidigal (PDT). A aproximação com o deputado Jair Bolsonaro faz parte de uma busca pelo discurso conservador como forma de conquista de um novo eleitorado, crescente no Brasil e que pode garantir o espaço político do deputado federal.
Século Diario