“Não são todas embarcações, sabemos dos pescadores honestos. Mas alguns, daqui e de fora do Estado, burlam a lei”, diz Joca Thome (foto).
Linhares – A população capixaba continua comprando e comendo peixes contaminados com metais pesados e outros poluentes oriundos da lama de rejeitos de mineração que vazaram da barragem da Samarco/Vale-BHP em Mariana (MG), rompida há dois anos. A denúncia parece não encontrar eco e vem sendo feita exaustivamente pelos próprios pescadores.
Desta vez, ganhou mais uma evidência nesta semana, com o último relatório mensal do Projeto Tamar/ICMBio, relativo aos animais marinhos mortos acidentalmente, no litoral de Linhares. A região monitorada faz parte da área proibida para a pesca pela Justiça Federal desde fevereiro de 2016.
O juiz federal em Linhares, Wellington Lopes da Silva, proibiu a atividade de pesca na área que se estende de Barra do Riacho/Aracruz até Degredo/Linhares, em uma profundidade de 25 metros. Mas novos estudos ambientais realizados após a decisão judicial, mostram que a área de pesca precisa ser expandida, possivelmente, ao norte, até a divisa entre São Mateus e Conceição da Barra, onde os manguezais foram destruídos e a pesca foi extinta desde a chegada da lama de rejeitos.
Mas, nem mesmo na área já proibida, a fiscalização é feita devidamente, o que põe em perigo, possivelmente, a saúde das pessoas que pescam e se alimentam do pescado impróprio para consumo. “Tá tudo contaminado”, reclamou o presidente da Colônia de Pesca Z-5, na Enseada do Suá, Álvaro Martins da Silva, referindo-se ao camarão capturado por barcos de Vitória que se deslocam até a Foz do Rio Doce e litoral norte capixaba.
Na pesca do camarão, tem um agravante, pois o defeso de cinco espécies de camarão teve início, em todo o Estado, no último dia 15 e se estende até 15 de janeiro de 2018, período em que a pesca fica proibida para proteger o ciclo reprodutivo do animal. Além do defeso, é temporada reprodutiva das tartarugas marinhas, quando um grande número de fêmeas adultas utilizam as praias para desova, ficando suscetíveis de serem capturadas, por redes de pesca ao mar.
O Projeto Tamar/ICMBio está trabalhando com esses dados para acionar a Polícia Ambiental e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama-ES), para que fiscalizem a pesca no mar próximo à foz do Rio Doce, considerando que os barcos não podem arrastar à noite, ou em qualquer hora do dia durante o defeso do camarão.
“Não são todas embarcações, sabemos dos pescadores honestos. Mas alguns, daqui e de fora do Estado, burlam a lei. O monitoramento tem que ser por satélite. É mais barato e totalmente acessível hoje. Os pescadores honestos já aceitam”, frisou o coordenador nacional do Tamar, Joca Thome.