Estado – Pacientes amarrados aos leitos, sem prescrição médica e sem registro em prontuário foram algumas situações flagradas durante uma inspeção no Hospital Adauto Botelho, atualmente chamado de Hospital Estadual de Atenção Clínica (Heac), em Cariacica. A fiscalização surpresa foi feita pelo Conselho Regional de Psicologia do Espírito Santo (CRP-16) no dia 5 de dezembro, junto do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), do Ministério Público Estadual (MPES) e do Conselho Regional de Serviço Social do Espírito Santo (CRESS-17).
Durante a inspeção foram flagrados, ainda, quartos e banheiros sem portas, e nos casos dos sanitários, não há vasos. Mofo recorrente em diversos setores do hospital, incluindo na dispensa de alimentos da cozinha geral, onde também foi encontrado armário com produtos de limpeza ao lado de uma estante com alimentos. “É uma forma de cuidar maltratando”, disse um dos internados à equipe.
Segundo a psicóloga Keli Lopes dos Santos, presidente da Comissão de Saúde do CRP-16, que participou da inspeção, faltam estratégias para se lidar com a crise. “Na ausência de projeto terapêutico da instituição e individual para cada paciente a estratégia que é utilizada é medicar e amarrar. Não existe sequer um profissional de psicologia na Unidade de Urgência que poderia trabalhar outras estratégias para o manejo da crise”.
Diferenciação entre sexo e cor
Segundo a fiscalização, o hospital tem uma enorme sobrerrepresentação de pessoas negras, para as quais há relatos sistemáticos de tratamento diferenciado em relação aos pacientes brancos. Ademais, quase todos os usuários vêm de contextos de pobreza e grande vulnerabilidade.
Foi constatada discriminação em relação às mulheres e, ainda, práticas que tendem à eugenia. Mulheres são obrigadas a utilizar anticoncepcionais injetáveis. Além disso, elas são obrigadas a tomar banho enquanto homens não são incomodados por essa imposição e nem para que façam a barba. Enquanto isso, mulheres são depiladas por funcionárias. Por outro lado, os homens quando querem se barbear recebem aparelhos e podem resolver a questão sozinhos.
Para a conselheira-presidenta do Conselho Regional de Serviço Social da 17ª Região, Pollyana Pazolini, o tratamento diferenciado às mulheres e às pessoas negras reforçam o caráter racista e misógino da sociedade dentro da instituição.
De acordo com os dados apresentados pela instituição, há 49 pacientes internadas/os na unidade de curta permanência, sendo que dessas/es, sete pacientes estão mais de 100 dias de internação e 13 pacientes mais de 45 dias. Isso significa que mais de 40% das/os pacientes internados excedem o tempo previsto para internação na curta permanência (45 dias). Fotos: Luciano Coelho/Ascom CRP-16.