A despeito do meu trabalho com mídias sociais, utilizo as redes para me manter informada sobre o que tem ocorrido no Brasil. Foi por uma notificação de rede social que fiquei sabendo do trágico acidente com o avião que transportava a equipe do time de futebol do Chapecoense. Por conta da dimensão da notícia, posteriormente, o triste fato fora noticiado nos canais internacionais CNN e BBC.
Mas voltemos a manhã de hoje. Navegando pela rede, me chamou a atenção um post curtinho que dizia: “sem demagogia, que Deus ajude o Espírito Santo”. Duas ou três postagens depois, um vídeo cuja chamada ressaltava “a crise no Espírito Santo”. Opa. O que está havendo?. Automaticamente, cliquei para saber o que era – ação que me levou para a rede social You Tube.
Como resposta à palavra-chave “crise no Espírito Santo”, vídeos curtos, chocantes e assustadores, me levaram a sentir uma tristeza profunda ao notar que aquelas cenas, as quais mais se parecem com filme de ação e terror, eram reais. Pessoas apavoradas correndo pelas ruas. Lojas sendo saqueadas. Crianças chorando de desespero.
Cenário cruel, porém um dos vídeos me deixou estarrecida. Um garoto sendo brutalmente assassinado a tiros, por outro garoto que filmava com seu celular. Possivelmente, ele mesmo tenha postado nas redes. A perplexidade veio acompanhada por ânsia e mal-estar. Não somente pela vida daquele que fora morto à queima roupa, mas pela visível alegria e verbalização de maldade daquele que tirava sua vida.
Me nego a assistir àqueles programas de TV dramáticos que só noticiam tragédias, mas visualizar àquelas imagens horrendas numa rede social, me pareceu invasivo demais. Parece que o celular nos aproxima do fato.
Justo eu, uma pessoa que defende, piamente, a democratização das redes sociais, comecei a questionar toda essa liberdade. O avanço das tecnologias favoreceram a criação das mídias sociais, que por sua vez, tornaram-se extremamente populares por permitirem que as pessoas conectem-se ao mundo on-line.
Rede Social é inclusão. Sempre defendi e continuarei defendendo esta chance única para a democratização dos conteúdos, mas confesso que nunca havia refletido tão profundamente sobre o “lado negro das redes sociais”.
Conteúdo Gerado pelo Usuário (CGU) é um termo do Marketing Digital, relativamente, valorizado por marcas que buscam as redes sociais para posicionarem seus produtos. Pode ser considerado qualquer tipo de mídia – comentários, posts, fotos, vídeos – produzido espontaneamente.
Mas e quando o conteúdo gerado pelo usuário é obsceno ou hediondo?.
O marco civil da internet, aprovado pelos órgãos competentes em 2014, é a lei que regula o uso da Internet no Brasil, por meio da previsão de princípios, garantias, direitos e deveres para quem usa a rede, bem como da determinação de diretrizes para a atuação do Estado. Dentre os vários temas abordados pelo projeto, impõe obrigações de responsabilidade civil aos usuários e provedores.
Os provedores buscam se proteger legalmente. Na rede citada, por exemplo, para publicar um vídeo é imprescindível criar um perfil e, para isto, é absolutamente obrigatório concordar com os termos de uso do serviço.
Seu Conteúdo e Conduta – Termos de Uso You Tube
- Como titular de uma conta YouTube Você pode enviar Conteúdo para o Serviço, incluindo vídeos e comentários dos usuários. Você compreende que o YouTube não garante a confidencialidade em relação a qualquer Conteúdo que Você enviar.
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Ok. Confesso que, pela primeira vez na vida li completamente um termo de uso da internet, e pelo conteúdo jurídico quase que rebuscado, entendi que há termos que podem responsabilizar civilmente os”publicadores” de conteúdo inadequado.
Mas qual seria a “responsabilidade civil” para alguém que filma e publica um homicídio?.
Ao mesmo tempo em que notamos pesquisas e discussões à cerca de Inteligência Artificial nos deparamos com a barbárie do ser humano. Aberrações contra a vida humana acontecem em todos os cantos.
Voando para bem longe do Sudeste do Brasil, mas muito próximo à tela do celular, recentemente vimos diversos vídeos de pedidos de socorro dos refugiados na Síria, diante de bombardeios que atacavam incessantemente a cidade de Aleppo.
Um dos vídeos desta manhã acompanhava a frase: “Por favor, divulguem, porque a mídia está escondendo o que está acontecendo em todo o Estado”. Sem julgamento de valor, pode até ser verdade. Historicamente, sabemos que a mídia é muito menos neutra e apartidária do que julga ser.
O que nos leva à questão central de todas as coisas – o equilíbrio. De uma mídia controladora e com censura “velada”, partimos para redes sociais onde beiramos o descontrole total. Cabe aos usuários avaliarem o que seria “divulgável” ou não. Cabe a cada dono de perfil o bom senso para julgar o impacto de suas publicações.
Mas bom senso e relatividade andam de mãos dadas. Muitas vezes, o que é adequado pra mim pode não ser adequado ao outro. E é exatamente neste ponto que reside o “lado negro das redes sociais”.
E que, realmente, todos ajudem o Estado do Espírito Santo.
Obrigada por sua leitura e até a próxima.
Luciane Borges * Especialista e Coach em LinkedIn | Ajudo a criar perfil de destaque no LinkedIn | Geração de Conteúdo | Palestrante