A vítima saiu de Linhares e seguia para o Aeroporto de Vitória, onde buscaria o patrão
Linhares – Sentado em um banco do Departamento Médico Legal (DML), em Vitória, o empresário Jean Carlos Frohlich, 41 anos, buscava respostas sobre como aconteceu a morte do irmão, na manhã desta quarta-feira (05), na Serra. O chefe de manutenção João Frohlich, de 51 anos, que saiu de Linhares e seguia em direção a Vitória, dava carona para duas pessoas, um homem e uma mulher.
Próximo ao posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o carona anunciou o assalto e atirou contra as vítimas. João não resistiu aos ferimentos e morreu na hora. A mulher, que não teve a identidade revelada, foi baleada na perna. O corpo de João é velado na Igreja Maranata do bairro Shell e o enterro será hoje à tarde no cemitério São José, no bairro Interlagos.
Entrevista com Jean Carlos Frohlich
O que você sabe sobre o crime?
Eu sei o que a colega do meu irmão contou para a polícia. Que eles saíram de Linhares com destino à Vitória e quando chegavam na serra, um homem para quem ele tinha dado carona, anunciou um assalto e depois atirou nos dois, matando o João.
Sabe quem era essa pessoa (carona)?
Não faço ideia. O João pegou essa pessoa antes de sair de Linhares, após receber um telefonema. Não sei se era conhecido do meu irmão.
Desconfia de que seu irmão possa ter reagido?
Acho que não. Ñão era do perfil dele. Acredito que o homem tentou roubar o carro e como não conseguiu, tentou eliminar as provas. Se ele conseguisse levar o carro, talvez ele tivesse ido embora sem fazer nada, eu acho.
Você esteve no local?
Sim, mas não consegui ver o corpo dele, a polícia não deixou. Foi até melhor. O lugar parecia um local de filme de terror. Tudo deserto, no meio do nada.
O assassino levou alguma coisa do seu irmão?
Levou só o celular. A carteira dele ficou no bolso, além do relógio. A mulher estava com R$ 600 na bolsa, deixaram tudo. Acho que o cara só queria o carro mesmo. Levou o celular dele e dela também.
Como ficou sabendo do que aconteceu?
Estava a trabalho em Fundão. Minha esposa me ligou contando o que tinha acontecido.
Como era o João?
Um ser humano fantástico, batalhador e que lutou muito pela vida. Não há palavras para descrevê-lo. Trabalhava há mais de 15 anos no mesmo lugar. Ele era transplantado, há 8 anos. Esperou três anos por um fígado novo. Lutou para viver mais e acabou morrendo desse jeito trágico. Esperou três anos para conseguir o fígado.
Você espera por justiça?
Claro. A polícia tem que descobrir quem ligou para ele. O celular dele sumiu, não estava no local, o celular da mulher também foi levado.
Vítima não tinha costume de dar carona em viagens
Dar caronas durante as viagens que fazia não era uma prática comum de João, como conta o irmão dele, o engenheiro de manutenção Josemar Frohlich, 41 anos. “João era uma pessoa muito rígida em relação à carona. Ele não tinha esse hábito e não dava carona para desconhecidos. Se meu irmão fez isso, é porque alguém que ele conhecia pediu a carona para o suspeito que acabou tirando a vida dele”, afirmou o engenheiro.
Em meio à tristeza que toma conta da família, os irmãos da vítima se abraçavam na delegacia para dar apoio e força um ao outro, em especial durante o procedimento de reconhecimento e liberação do corpo de João. “Pedimos o conforto de Deus; mas também desejamos que a Justiça seja feita. Meu irmão é mais uma vítima da política que defende bandido, ladrão e mau caráter e não faz nada contra a violência. João era sensacional, estudava, presente na igreja evangélica, pai de família e trabalhador. Era uma pessoa caridosa e amável, não tinha problema com ninguém. Não entendemos o porquê isso aconteceu com meu irmão”, lamentou Josemar Frohlich.
“Ele era como se fosse da família”, diz empresário
Apesar da família acreditar em latrocínio, a Polícia Civil trata a morte de João Frohlich como homicídio. “O caso será investigado na Delegacia de Crimes Contra a Vida (DDCV) de Serra, onde serão apuradas a autoria e motivação”, afirmou o delegado José Lopes, chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
O Ford Edge que João dirigia passou por perícia e foi entregue ao empresário Jadir Marin, dono do carro e chefe de João. Marin disse estar abalado com a morte do funcionário, com quem trabalhou por 20 anos. Ele passou o dia em Vitória acompanhando os familiares de João durante a liberação do corpo e demais trâmites legais no DML. Durante a tarde, voltou para Linhares. O empresário lamentou a morte do funcionário.
“Ele era como se fosse da família, trabalhava há 20 anos conosco, sempre muito prestativo”, desabafou o empresário.
Sonho era terminar a faculdade de engenharia
João Frolich tinha como grande sonho se formar na faculdade de Engenharia Elétrica. É o que contaram amigos de Linhares, no Norte do Estado, muito comovidos com a morte dele. O universitário Willian Cerqueira de Souza estudava com Frolich em uma faculdade particular e disse que o amigo estava sempre disposto a ajudar.
“Para mim, ele era um paizão. Seu maior sonho era se formar na faculdade. Éramos muito próximos, ontem (terça-feira) ele me deixou em casa às 23 horas. Foi um susto saber da morte dele”, explicou. Já a universitária Jennifer Fehlberg contou que na noite de terça-feira Frolich também foi em sua casa, mas para pegar um material de estudo para uma prova. “É até difícil de acreditar que ele morreu. O João esteve em casa, nos despedimos com um abraço. Quando recebi a notícia, fiquei sem reação.”
Colegas de trabalho estão abalados com a morte do eletricista, que fazia a manutenção elétrica de um estabelecimento comercial no bairro Conceição composto por cinema, boliche, restaurante e espaço kids.
Comoção
O atendente Valdinei Correa, que trabalha no local há 19 anos, disse que Frolich era muito querido. “Eu tenho ele como um irmão. Ele erra inteligente, esforçado, estudioso. Trabalhamos juntos por muito tempo. É lamentável o que aconteceu com o João”, desabafou.
Emocionado, o eletricista Cláudio Buzzato Júnior falou que foi um choque saber sobre o assassinato. “Ele me ensinou muita coisa do trabalho, não sei como será agora sem ele. A gente tinha muita amizade”, contou o colega.
Terceira tragédia em 6 meses
O assassinato do chefe de manutenção João Frohlich, 51, não é a primeira tragédia que a família dele, que mora em Linhares, enfrenta neste ano. Seu irmão, o empresário Jean Carlos Frohlich, de 41 anos, contou que é a terceira morte em um período de sete meses. “Em janeiro, perdi outro irmão para uma bactéria. Depois, em março, meu pai morreu, já estava bem velhinho, com Alzheimer. Fico preocupado como a minha mãe agora”, lamentou.
De acordo com familiares que conversaram com a reportagem, mas pediram para não ser identificados, a mãe de João está bastante abalada com o assassinato do filho e precisou ser amparada pelos parentes. Eles disseram que a vítima era muito querida e receberam poucas informações sobre o que aconteceu. Muito ativo, João Frohlich trabalhava e estudava Engenharia Elétrica em uma faculdade particular, além de participava do Motoclube de Linhares.
Além da mãe e dos irmãos, ele deixa sua esposa e uma filha de 16 anos. O corpo dele será enterrado hoje no cemitério de São José, em Linhares.
Fonte e Fotos: Gazeta Online e Jornal A Gazeta