Linhares – Quem passa por ele nem sempre pode associar o status que já teve, quando foi considerado um dos mais sucedidos homens de negócios do Espírito Santo. Hoje, Santo Poltronieri vive sua velhice, nas confluências das avenidas João Felipe Calmom com Rufino de Carvalho como a vigiar o tráfego de veículos que ali passa.
Santo foi um dos maiores empresários no ramo de transportes há décadas passadas, chegando inclusive a se eleger vereador por Linhares. Ele comandou um império denominado de ”Cavalinhos Transportes” Ltda., possuindo a maior frota de caminhões para o transporte de diversas cargas na região, no estado e país.
Nascido no distrito de Cavalinho em Ibiraçu, Santo Poltronieri começou muito cedo na profissão de motorista de caminhão. Naquela época ainda em sua juventude, a carga mais transportada era de carvão. Ele conta que se apaixonou um caminhão Mercedes Benz 1113 cujo proprietário era dono de um alambique em João Neiva. “Comprei na palavra” diz ele.
Acostumado a percorrer as estradas da região, relembra que havia uma empresa estabelecida aqui denominada de “Floresta Rio Doce” e que detinha muitos fretes para diversos caminhoneiros. Vendo a demanda, não demorou para que ele logo resolvesse entrar no ramo de uma forma diferente já que em vez de ser motorista, iria fundar uma empresa que transportasse de tudo e principalmente madeira, muito abundante na região.
Nasce a Cavalinhos Transporte Ltda.
Orientado por um amigo de São Mateus, Poltronieri partiu para Belo Horizonte onde obteve mais informações sobre a empresa e resolveu montar o próprio negócio. Nascia assim, a Cavalinhos Transportes Ltda., que tinha apenas um caminhão, o seu Mercedes Benz 1113.
Não demorou para que percebesse que como tinha exclusividade para transportar madeiras para a “Floresta Rio Doce”, seria necessário ter mais caminhões. Como lhe faltava capital, foi agregando veículos dos amigos e de quem se dispusesse a transportar para ele, as toras de madeiras da empresa que o contratou.
Como pagava por metro de madeira transportado, não demorou para que os caminhoneiros agregados lhe exigissem querer ganhar mais. Fizeram uma greve e Santo, agora patrão, resolveu pagar o valor integral do frete que a “Floresta Rio Doce” lhe pagava. Passou-se um mês e o frete foi mantido. Veio o segundo mês e novamente o valor do frete total foi direcionado aos caminhoneiros. O mesmo aconteceu no terceiro mês mas com uma diferença: Poltronieri pagou todos mas lhes disse – “agora vocês vão procurar outros fretes”, e dispensou todos os caminhões contratados.
Não demorou e logo o caminhoneiro que virou empresário, adquiria vários caminhões, num total de 20. Todos os veículos adquiridos via crédito e nenhum deles pago a vista. Mesmo assim, resolveu manter apenas um caminhão fretado, o de Alcides Demarchi que já havia demonstrado ser verdadeiro amigo de Poltronieri.
A Cavalinhos Transportes dava um salto fenomenal, passando a ter mais e mais caminhões e sua sede era onde funcionava a antiga Distribuidora Skol, local este em que o empresário despachava diariamente dezenas de pessoas. Contam que para falar com Santo Poltroneri era necessário passar por diversas secretárias.
Tudo corria bem até que no ano de 1988, no Córrego Dágua, hoje Sooretama, Santo acabou envolvido num grave acidente automobilístico, que quase o levou a morte. Sem poder comandar os negócios pessoalmente, a empresa entrou em colapso. As dívidas foram avolumando, além dos planos econômicos do governo e não demorou para que caminhões da Cavalinhos Transporte fossem levados a penhora.
O império de outrora se definhava. Até que aos poucos a saúde abalada pelo acidente foi sendo em parte recuperada, mas impossibilitado de trabalhar como antigamente. Teve tanto prestígio que mesmo sem conseguir manter a empresa, se elegeu vereador pela Câmara Municipal de Linhares para a legislatura de 1988 a 1992.
Hoje o abandono
Hoje o homem que todos passam por ele e o veem sentado na esquina das avenidas e próximo a Igreja Matriz, consegue se locomover com dificuldades, devido a sequelas do acidente sofrido. Com 70 anos e aposentado reclama do esquecimento dos amigos de antigamente. “Não passava um dia em que não era convidado para estar em festas, ser padrinho de casamento e de batizado”, lamenta ele.
Mesmo assim, apenas um amigo sobrou. É o ex-prefeito Nozinho Correa que ainda o chama para participar de churrascos e festas de confraternização em suas propriedades. Casado com Neide Maria Tessarolo com quem teve apenas um filho, vive seus dias em um modesto apartamento bem próximo de onde passa as manhãs e tardes. Com olhar perdido no horizonte vendo os veículos e pessoas passarem, ou lendo um livro, assim vai aos poucos o ex-empresário de sucesso se mantendo vivo graças as lembranças acumuladas ao longo de sua existência.