As coletas ocorreram nos meses de setembro, novembro e dezembro de 2016
Estado – Uma pesquisa sobre impacto ambiental nos girinos (anfíbios em fase larval) da Bacia Hidrográfica do Rio Doce, mostrou que os dados comprovam a contaminação provocada pelo rompimento da barragem de Fundão em Mariana, da Samarco/Vale-BHP, no dia cinco de novembro de 2015. Esta situação está no estudo “Girinos como bioindicadores da qualidade da água do Rio Doce”, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia. O último estudo da série contratada pelo Greenpeace, com recursos do coletivo Rio de Gente.
Constatou-se a presença de doze metais – Alumínio, Bário, Cádmio, Crômio, Cobre, Ferro, Manganês, Níquel, Chumbo, Titânio, Vanádio e Zinco – nos cerca de 1.500 girinos, de 24 espécies, levados a laboratório. As coletas foram feitas em 26 pontos, sendo 14 no Espírito Santo e 12 em Minas Gerais, em campanhas feitas nos meses de setembro, novembro e dezembro de 2016.
Os pesquisadores concluíram que os girinos estão bioacumulando metais pesados da lama de rejeitos da mineradora, com potencial para afetar a cadeia alimentar da região, incluindo seres humanos que venham a se alimentar dos peixes do Rio Doce. Destacam que não se trata apenas de Ferro, mas de todos os metais analisados, sejam eles considerados essenciais ou não. “Foram encontradas concentrações muito mais elevadas do que o permitido pela legislação para consumo humano”, afirma Flora Acuña Jucá, professora de Biologia da UEFS, doutora em Zoologia e coordenadora do estudo.
“Metal pesado é um inimigo invisível, vai acumulando no organismo. Muitos deles estão no organismo em doses pequenas, inclusive são importantes para a saúde, como Zinco e Ferro, mas quando há acúmulo, começam a aparecer os problemas”, explica. Há também os chamados metais pesados não essenciais, como Chumbo e Cádmio, cujas menores presenças no organismo podem provocar problemas de saúde ainda mais graves. “Alguns metais podem causar problemas sensoriais, ligados ao sistema nervoso. É aquela situação que pode aparecer em pouco tempo ou daqui a dez anos”, alerta a bióloga.
Mesmo os pontos de amostra que não tiveram contato com o rejeito da barragem também apresentaram girinos contaminados. “Isso pode ser explicado pela contaminação através do lençol freático. Após um pouco mais de um ano, quando foram feitas as coletas deste trabalho, a contaminação pode ter expandido além dos limites da lama”, diz Flora. Eles destacam que, diferentemente do que estipulava o Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima) da empresa, o estrago foi muito além das áreas de influência previstas tecnicamente. Foram mais de 660 quilômetros de desastre, chegando até a foz.
No Espírito Santo, dos 14 pontos pesquisados, em apenas dois houve sucesso de coleta. “A gente não sabe se essa ausência de girinos é uma consequência do desastre ou se não foi uma época reprodutiva propícia”, indaga Flora. A coleta das amostras resultou um total de 25 pontos, de seis municípios: Baixo Guandu, Regência, Colatina e Linhares, no Espírito Santo. Outros 14 pontos, Aimorés e Mariana, em Minas Gerais
Os pontos foram escolhidos de acordo com a acessibilidade e também de acordo com o contato direto do rejeito (18 pontos) ou a distâncias variadas. No Espirito Santo, os pontos foram ao longo do Rio Doce, enquanto que em Minas Gerais, os pontos foram em áreas drenadas pelos rios Gualaxo e Piracicaba.
“A pesquisa evidencia a extensão e a complexidade dos impactos do desastre causado pela Samarco, que afetam todo um ecossistema e aqueles que dependem dele. Esperamos que estudos como este aprofundem as discussões e auxiliem a aplicação de políticas públicas a favor da recuperação das áreas degradadas e da reparação aos atingidos”, afirma Fabiana Alves, da campanha de Água do Greenpeace.