Linhares – Oito comunidades da Foz do Rio Doce, representadas por 18 entidades, formalizaram na semana passada, reclamações e reivindicações com relação a medidas de compensação e reparação dos impactos sociais e ambientais advindos do rompimento da barragem de Fundão, de propriedades da Samarco/Vale-BHP, em Mariana/MG.
De acordo com reportagem de Século Diário, a Carta das Instituições Comunitárias da Região da Foz do Rio Doce foi entregue em mãos, a representante da presidente do Comitê Interferativo (CIF), durante Seminário que o Comitê realizou em Regência, Linhares. Nela, foram listadas 17 considerações e problemas mais urgentes que vivenciam há mais de dois anos, bem como 17 proposições para amenizar seus efeitos na vida das pessoas que moram na região, considerada prioritária para a conservação da biodiversidade pelo Ministério do Meio Ambiente.
A Carta contextualiza a importância socioambiental da região – formada ao longo de tempo pelos sedimentos carreados pelo Rio Doce até o litoral – lembrando a existência de comunidades tradicionais, unidades de conservação, polos de Educação Ambiental da Mata Atlântica e sua integração ao Mosaico de UCs da Foz do Rio Doce e ao Corredor Ecológico Sooretama-Comboios-Goytacazes.
Sem perspectivas de futuro
Povoação, Regência Augusta, Terra Indígena de Comboios, Areal, Entre Rios, Degredo/Cacimbas e Pontal do Ipiranga. Para essas comunidades, o crime socioambiental provocado pela Samarco/Vale-BHP roubou-lhes as perspectivas de futuro e as tornaram fragilizadas e vulneráveis.
“Apesar das históricas dificuldades, da pouca oportunidade de emprego, dos inúmeros problemas e divergências de ideias, eram felizes, cooperativos; encontravam em seu ambiente a sustentabilidade (econômica, social, cultural e ambiental) e tinham perspectivas. Lamentavelmente, esse tecido social foi rompido pela lama de rejeitos”, destaca o documento.
Relatam o inchaço populacional dessas pequenas localidades, para onde migraram muitas pessoas em busca do cartão de auxílio emergencial e indenizações, e a precária comunicação estabelecida com a Fundação Renova, com suas “respostas vagas e inconsistentes”.
Também exigem o reflorestamento e revitalização do Rio Preto e Rio Doce, lagoas e outros corpos hídricos de Linhares e Foz e a implementação de várias ações nas áreas de educação, cultura e turismo, já propostas pelo Grupo Gestor.
O documento finaliza reivindicando “que os municípios do ES, principalmente o de Linhares (região da foz), sejam contemplados na divisão dos recursos de multas pelo CIF, pois somente os municípios mineiros estão recebendo os recursos, sendo que os impactos foram em toda a calha” e que “os recursos destinados a compensações comtemplem de forma igual aos municípios capixabas e mineiros, considerando que os impactos não foram somente em Mariana e Barra Longa”. “Que todos os programas contemplem os municípios capixabas”, enfatizam.
“A própria Renova disse que precisa mudar a condução de algumas ações e sua relação com as comunidades”, conta Carlos Sangália, da Associação de Moradores de Regência (Amor), relatando ainda que outras entidades entregaram documentos específicos ao CIF e à Renova, com mais reivindicações. Entre elas, a Associação de Surf de Regência.
Dois dias antes do seminário em Regência, a Fundação Renova e a Samarco/Vale-BHP receberam várias repreensões por parte do CIF e das Defensorias Públicas do Espírito Santo e da União, durante reunião do Comitê realizada em Vitória, na quarta-feira (13). Foto: João Freire/ICMBio.