Em comum, o fato de o dinheiro ter chegado aos candidatos capixabas indiretamente, por repasses, seja da direção nacional ou estadual de seus partidos
Nas eleições gerais de 2014, 15 políticos do Espírito Santo receberam mais de R$ 1 milhão da JBS (R$ 1.124.500), empresa responsável pela maior crise enfrentada pelo governo de Michel Temer (PMDB). Em comum, o fato de o dinheiro ter chegado aos candidatos capixabas indiretamente, por repasses, seja da direção nacional ou estadual de seus partidos.
Não é possível dizer que os políticos beneficiados receberam dinheiro ilegal. No entanto, em delação, o ex-diretor da JBS Ricardo Saud, tido como lobista da empresa com políticos brasileiros, afirma que muitas vezes o dinheiro ilegal se misturava a doações legais. Em alguns casos pelo Brasil, o esquema para irrigar campanhas políticas funcionava com dinheiro vivo, notas fiscais frias e doações oficiais. “Nós participamos de todas as eleições de 2010 para cá. Praticamente tudo é propina”, disse Saud.
Ao se confirmar, com as investigações, que propina foi usada para financiamento de políticos, não é exagero dizer que a JBS usou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para lavar dinheiro.
Pente-fino
A GAZETA fez um pente-fino no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, com os valores devidamente declarados, confirmou que os 15 políticos de fato receberam o apoio da empresa. A JBS era citada como doador de origem e os partidos, em sua maioria no âmbito nacional, eram os doadores finais para as campanhas dos candidatos capixabas. Os pagamentos eram feitos por cheque ou por meio eletrônico.
Os políticos que receberam doações da JBS no Estado foram: o deputado federal Sérgio Vidigal (PDT), na época candidato, que recebeu R$ 250 mil; o deputado federal Marcus Vicente (PP), que recebeu R$ 205 mil; o ex-vereador de Vitória e candidato a deputado federal, Devanir Ferreira (PRB), que recebeu R$ 202 mil; o deputado federal Lelo Coimbra (PMDB), na época candidato, que recebeu R$ 100 mil; o deputado estadual Gilsinho Lopes (PR), na época candidato, que recebeu R$ 60 mil; o então candidato a governador Roberto Carlos, na época no PT, hoje filiado à Rede, que recebeu R$ 57.500; o prefeito de Marechal Floriano, Cacau Lorenzoni (PP), na época candidato a deputado estadual, que recebeu R$ 50 mil.
Além do prefeito de Santa Maria de Jetibá, Hilário Roepke (PPS), na época candidato a deputado estadual, que recebeu R$ 50 mil; o delegado da Polícia Civil, Danilo Bahiense Moreira, candidato a deputado estadual pelo PR na época, R$ 40 mil; o deputado estadual Rafael Favatto (PEN), na época candidato, que recebeu R$ 25 mil; o ex-candidato a deputado estadual Gideão Svensson (PR), R$ 20 mil; o ex-candidato a deputado federal pelo PR, Charles Jean Lopes Justino, que recebeu
R$ 20 mil; o candidato a deputado federal pelo PR Flávio Gava de Oliveira, da Associação de Cabos e Soldados PM e BM, que ganhou R$ 20 mil; o deputado estadual Marcos Bruno (Rede), na época candidato pelo PRTB, recebeu R$ 15 mil; por último o também deputado estadual e presidente da Assembleia, Erick Musso (PMDB), na época do PP.
Vidigal, que recebeu um montante maior, teve o primeiro pagamento feito em 2 de outubro de 2014, no valor de R$ 100 mil; outro no mesmo valor 13 dias depois e outro de R$ 50 mil no dia 31 daquele mesmo mês. O doador foi o Comitê Financeiro Nacional para Presidente da República e o doador de origem a JBS. Já Marcus Vicente, o segundo maior beneficiário, recebeu um cheque de R$ 25 mil no dia 30 de julho de 2014, outro de R$ 15 mil em 6 de agosto, um terceiro de R$ 25 mil em 8 de setembro, e um último de R$ 140 mil no dia 3 de outubro do mesmo ano.
Políticos do Estado negam ter relação direta com a empresa
Os capixabas citados na lista com quase 2 mil nomes de políticos com campanhas financiadas pela JBS afirmam que a situação se tornou um incômodo, uma vez que foram associados a práticas ilícitas de empresa que nem sequer tinham contato direto. Dos 15 candidatos nas eleições de 2014 que aparecem no documento entregue na delação premiada da empresa, 12 foram localizados pela reportagem.
“É muito chato, porque meu nome sempre foi associado à austeridade, a medidas de transparência, aí vem essa questão. O partido todo enrolado acaba jogado essa para cima da gente”, diz Roberto Carlos (Rede), candidato ao governo do Estado em 2014 pelo PT.
Apesar da preocupação com uma possível influência em suas reputações, os candidatos apontados na lista se mostraram bastante tranquilos.
O deputado federal Marcus Vicente (PP) disse não estar aflito com a citação de seu nome e não ter receio de que a exposição influencie sua imagem.
“Eu não tenho absolutamente nenhum receio. Recebi do partido, a origem foi indicada na prestação de contas. Não significa que eu tenha ligação com a empresa”, afirmou o parlamentar.
Gilsinho Lopes, eleito deputado estadual em 2014 pelo PR, também frisou a inexistência de uma relação direta com a JBS. “Recebi do partido. Se soubesse que seria dessa empresa jamais receberia. Como era do partido como eu ia me preocupar?”, disse o deputado.
As doações
Todos os candidatos citados reforçaram a legalidade e origem das doações recebidas para a campanha eleitoral de 2014.
“A doação oficial e legal veio do diretório nacional do PMDB e não da JBS”, afirmou o deputado federal Lelo Coimbra, eleito em 2014. E completou: “Isso significa que, em muitos casos, não há nenhum pedido, contato ou relacionamento pessoal com a empresa que consta como ‘doadora originária’, como é o nosso caso”.
“Eu recebi do diretório nacional, quando era permitida a doação de empresas a partidos. Dezenas de empresas doaram ao PR nacional, o que eu recebi foi do Fundo Partidário”, disse, por sua vez, Gideão Svensson (PR), candidato a deputado estadual na época.
Durante toda a tarde de ontem, a reportagem tentou contato com os candidatos Cacau Lorenzoni (PP), Devanir Ferreira (PRB) e Charles Jean Lopes (PR), mas até o fechamento desta edição não responderam.
A Gazeta