Guarapari – No verão, Guarapari, o mais famoso balneário do Espírito Santo, recebe não apenas milhares de turistas e veranistas, mas também centenas e talvez milhares de trabalhadores temporários, em busca de melhorar sua renda.
Nessa temporada, o aposentado Manoel Rodrigues, 69 anos, estava entre esses trabalhadores, mas foi do inferno ao céu em menos de 48 horas. Manoel deixou Bom Jesus do Itapaboana, cidade fluminense da divisa do Rio de Janeiro com o Espírito Santo, para vender picolés em Guarapari.
Mora de aluguel na cidade, num pequeno imóvel onde divide os R$ 500,00 da locação com dois outros amigos. Separado da família, pai de dois filhos, Manoel comemorou, sem festas, seu aniversário dia 22 de dezembro, mas o presente veio quase um mês depois.
No último dia 14, Manoel se deslocava da praia, onde trabalhava, para o bairro Olaria, onde fica o depósito de picolés, que compra a R$ 1,45 para vender por R$ 2,50 para os veranistas, quando perdeu sua carteira com os seus documentos e todo o dinheiro arrecadado até aquela hora.
Desesperado, o aposentado tentou encontrar sua carteira em meio a milhares de pessoas, quase como buscar uma agulha no palheiro. Procurou uma emissora de rádio da cidade para anunciar a perda dos documentos, mas tinha que pagar R$ 40,00 para fazer o anúncio – e todo o dinheiro de que dispunha se perdeu junto com a carteira.
SORTE
Do outro lado da história, um deputado estadual: Enivaldo dos Anjos (PSD), que é da região Noroeste do Estado, havia decidido passar o final de semana em Guarapari, caminhava por uma rua movimentada no último domingo (14), quando viu uma carteira no chão. Abaixou-se, apanhou o objeto e conferiu: dentro estavam os documentos de Manoel Rodrigues – Carteira de Identidade e Título de Eleitor do Estado do Rio de Janeiro -, o cartão para receber aposentadoria, uma nota de R$ 50,00 e várias outras notas de R$ 2,00. E, agora?
Como encontrar o dono da carteira em meio a tanta gente? Enivaldo localizou uma de suas assessoras, que mora em Guarapari, e a incumbiu de procurar o legítimo dono da carteira e a devolvesse. Foi mais difícil porque o sr. Manoel Rodrigues é um homem muito simples, que sequer utiliza telefone celular, mas, nesta terça-feira (16), o vendedor de picolés foi localizado e encontrou-se com a assessora parlamentar para reaver o que lhe pertence.
O deputado se disse aliviado. “Imagino a aflição desse trabalhador ao dar-se conta de que havia perdido seus documentos e o dinheiro conquistado com tanto suor. Eu tinha certeza de que iríamos encontrá-lo. Devolver o que é dos outros é obrigação de cada um de nós”, disse o parlamentar, que já viveu outra situação correlata há alguns anos, quando hospedou-se em um hotel de Colatina.
Ao deixar o local, Enivaldo colidiu seu veículo, inadvertidamente, em um carro parado. Tentou encontrar o dono e não conseguiu. Como tinha de viajar, deixou um bilhete com seu número de telefone no para-brisas, o dono ligou e o deputado pagou o conserto do carro avariado.
Em Guarapari, o sr. Manoel Rodrigues teve duas surpresas: receber a carteira com tudo o que havia dentro e saber que quem a encontrou, e devolveu, foi um deputado.