Servidores do Detran são presos por desvio de pelo menos R$ 500 mil. Prejuízo causado pela organização criminosa chega a R$ 700 mil
Acusados de participar de uma organização criminosa que atuava no Detran, três servidores públicos e um ex-funcionário, que atualmente era um despachante clandestino, foram presos na quinta-feira dia 08. Eles são suspeitos de desviarem R$ 500 mil de taxas e outros R$ 200 mil referentes a retiradas ilegais de carros de dentro dos pátios.
Toda a operação realizada pela Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos, denominada “Nêmesis”, cumpriu ainda 12 mandados de busca e apreensão. Três deles foram em Ciretrans e Postos de Atendimento Veicular (PAVs), além de casas e escritórios dos investigados e dos despachantes.
Outra pessoa envolvida no esquema, também despachante, está foragida. Os nomes dos presos e envolvidos não foram divulgados pela polícia porque o processo está em segredo determinado pela Justiça Estadual.
Esta é a segunda ação envolvendo fraudes no Detran, pouco mais de dois meses. No dia 28 de setembro, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, realizou a operação “Carta Marcada” em sete cidades. Naquela ação o alvo também eram servidores de Ciretrans e autoescolas suspeitos de fraudes na emissão de Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
Atuação
O fraudulento esquema era iniciado por um contato entre o despachante e o cliente, que podia estar agindo de boa-fé, ou não. “Todos os casos ainda vão ser investigados”, destacou o delegado Érico Mangaravite. Os integrantes da quadrilha, presos ontem, agiam na Grande Vitória e em dois municípios do interior do Estado. Um deles era chefe de um Posto de Atendimento Veicular (PAV).
O método consistia em paga ao despachante o valor pelo trabalho que executaria e ainda o equivalente as taxas, que não eram pagas ao Detran. O total era embolsado pelo despachante, que compartilhava com os servidores.
Em contrapartida o despachante agia em falsificar diversos documentos públicos e privados, tais como boletins de ocorrência, cédulas de identidade, comprovantes de residência e laudos policiais de vistoria. Em algumas etapas contava com o apoio de servidores para a falsificação.
Todos os documentos falsos eram entregues a servidores que se encarregavam de fazer a inserção no sistema do Detran. A partir daí era produzida a documentação do veículo, que é legal. E era feita a entrega ao cliente. Só em um PAV foram encontrados 20 documentos de processos falsificados.
O esquema era adotado em clonagens de carros, de chassis de veículos, de transferências de Estado ou de propriedade e até para aplicar golpes de financiamento e de seguro em instituições financeiras. “Houve uma tentativa que não se configurou”, explicou o delegado Tarcísio Ottoni.
Pelos depoimentos iniciais, revelam ainda, segundo Ottoni, que esta é a segunda leva de servidores que praticam este tipo de corrupção. “Um deles informou que estava substituindo na operação servidores que haviam sido demitidos”, contou.
As investigações foram iniciadas pela Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos há seis meses, mas estima-se que há pelo menos um ano e meio as fraudes vinham sendo praticadas.
Segundo o secretário de Segurança Pública, André Garcia, o foco principal da quadrilha era o desvio de recursos públicos. “Estima-se que os desvios possam ser bem maiores”, destacou.
Já o diretor-geral do Detran, Romeu Scheibe, informou que a partir de agora os processos administrativos do Detran vão ser mudados. “Queremos evitar que este tipo de fraude volte a acontecer”.
Sabe-se que a quadrilha atuou também nos pátios do Detran, de onde quatro veículos foram retirados ilegalmente, causando prejuízos de R$ 200 mil. A polícia acredita que o grupo atuava há um ano e meio no Espírito Santo e em outros estados do país. (Foto: Divulgação/Polícia Civil)