O número assusta:162. Esse é o número de motociclistas vitimados até o fim do mês de maio de 2019 no trânsito capixaba. A situação é pior que a do ano passado – quando a média de acidentes fatais foi menor (0,95/dia) – e reflete o desafio da gestão pública frente a um male que equilibra, de um lado, responsabilidade pessoal, e do outro, infraestrutura viária ruim. Os desafios aumentam ao constatar que a maioria das vítimas são homens jovens (17 a 25 anos).
As estatísticas da Secretaria de Segurança Pública do Espírito Santo (Sesp) mostram ainda que 49% dos acidentes fatais de trânsito capixaba envolvem os motociclistas e que 77,7% destes acontecem no interior do Estado. A maioria dos acidentes ocorrem aos finais de semana e nos horários noturnos. Na Grande Vitória, aconteceram em sua maioria em cruzamentos de vias em virtude de avanço de sinal e tráfego em corredores, ocasionando colisões.
O relatório da Sesp chama atenção para o alto índice de acidentes caracterizados por queda da moto ou choque com pontos fixos, como placas, postes, árvores, contenções e outros, tanto na região metropolitana, quanto no interior. “Este tipo de acidente demostra descontrole do piloto causado muitas vezes por imprudência devido ao excesso de velocidade ou imperícia em controlar o veículo em curvas ou passagem de nível. Os dados analisados do ano de 2018 apontam que 36% dos acidentes fatais com motociclistas foram causados por queda ou choque com ponto fixo”, informa a Sesp, no relatório.
Protesto
Se, de um lado, o Estado ressalta a imprudência de parte dos motociclistas, aqueles que a utilizam em seu dia-a-dia protestam principalmente contra a precariedade da infraestrutura viária e a necessidade de respeito dos motoristas dos demais automóveis. O publicitário Rafael Gasperazzo, 36, morador da Praia da Costa, em Vila Velha, resolveu adotar a moto há seis anos. Apesar do amor pela vida em duas rodas, ele reclama dos perigos que enfrenta nas vias.
“A péssima infraestrutura das pistas de rolagem, inclusive nas principais ruas e avenidas, é um grande problema. Os perigos maiores são os desníveis, buracos e as tampas de bueiro, que podem facilmente derrubar o condutor. Em seguida, pontuo o péssimo hábito de outros condutores não sinalizarem conversão e troca de faixa, além do uso do telefone celular”, ressalta.
Em função de desníveis e buracos nas pistas, Jime Pimentel, 33, corretor de imóveis decidiu optar por uma moto “off-road” para transitar pelas avenidas da Região Metropolitana. “Encaro hoje como maior dificuldade o estado das pistas. As vias de Vitória são uma vergonha. A gente anda de moto e parece até que está fazendo trilha, enduro. As pistas são muito ruins, muito esburacadas, o asfalto é totalmente desnivelado”, protesta.
Prefeituras prometem recapeamento
Apesar da maior quantidade das vítimas fatais de acidentes de motocicletas no Espírito Santo se concentrarem no interior, cinco cidades da Grande Vitória estão entre as 10 que apresentam os maiores índices em 2018, inclusive a campeã: Serra, com 23 óbitos. Vila Velha (18), Cariacica (15), Vitória (13) e Guarapari (9) completam o ranking. A infraestrutura viária das vias urbanas, motivo de protesto por parte dos motociclistas, é de responsabilidade dos municípios.
A Prefeitura da Serra informou que o serviço de tapa-buracos “é realizado de forma rotineira e a recomposição do asfalto ocorre diariamente”. “Inicialmente em vias de mais velocidade e fluxo, e depois em vias de menor intensidade de veículos. A equipe da operação tapa-buracos percorre uma média de 30 bairros por semana na Serra”. Lá o serviço é programado por meio de solicitações dos moradores, que pode ser feita pelo número (27) 3291-5306.
A Prefeitura de Vitória informou que o serviço de tapa-buraco é executado diariamente e utiliza, por mês, de 500 a 550 toneladas de asfalto para recapear todas as regiões da cidade. “Nos períodos de chuva, as ações são intensificadas. Informamos, ainda, que está em fase de licitação o projeto de recapeamento asfáltico completo das principais vias da capital”.
Já em Cariacica, o Executivo garante manter três frentes simultâneas de trabalhos de manutenção de vias.