Guarapari é a única cidade do Estado onde é possível saltar. Deixamos o medo de lado e nos jogamos no céu da Praia do Morro; Veja vídeo
Há quatro mil metros de altura, o mar da Praia do Morro e o céu azul parecem formar uma só paisagem. A imagem, é bem verdade, pode ser vista da janela de um avião, mas é ainda mais impressionante se você tiver coragem para planar no ar com o auxílio de um paraquedas.
No Espírito Santo, a aventura só pode ser realizada, no Aeródromo de Guarapari. Desde o reveillon, a cidade saúde – destino badalado no verão -, ganhou um novo “título”: capital capixaba do paraquedismo. Por lá, agora é possível fazer salto duplo de paraquedas ou, para os mais radicais, um curso para se tornar paraquedista.
“A ideia é resgatar o paraquedismo no Espírito Santo. Agora temos uma aeronave nossa para fazer os saltos, e Guarapari tem a somatória de tudo que a gente precisa. É uma cidade com turismo forte, e que tem um dos visuais mais bonitos do Brasil. Todo mundo que é de fora fica encantado quando salta aqui”, explica Thiago Mol, presidente da Federação Capixaba de Paraquedismo (Fecap).
Nas contas da Fecap, existem hoje 70 capixabas paraquedistas, isso sem contar os atletas filiados em outros estados, como Rio de Janeiro e São Paulo. Gente que confia na segurança do esporte e que se joga no ar sem medo, para curtir sete minutos de adrenalina.
“Ficou muito tempo sem ter curso no Espírito Santo e muita gente se filiou por outros estados. Mas, aos poucos, a gente vai trazer esse pessoal de volta para casa. Nos últimos 20 anos, o paraquedismo passou de segundo esporte mais perigoso do mundo para 35º. Hoje é mais perigoso andar de moto do que saltar. A gente tem essas estatísticas. Saltamos com dois paraquedas, se o principal der pane, a gente abre o reserva. Muito difícil acontecer falha no equipamento reserva, que é feito para abrir a todo custo. A gente salta para celebrar a vida”, diz Mol.
Para aprender
Em Guarapari, o salto duplo pode ser feito com pouso no aeródromo ou na Praia do Morro – cartão postal da cidade -, mas sempre aos finais de semana e por agendamento. É comum, no entanto, que os mais radicais não se contentem com um único salto e queiram repetir a dose outras muitas vezes. Paras esses, há a opção de fazer o curso de paraquedismo, que dura em média um mês e dá licença para saltar sozinho.
“São dois dias de aula teórica, e a cada salto um treino de uma hora antes de subir no avião, para simular como serão todos os movimentos, desde a entrada no avião até o pouso. O tempo (para concluir o curso) depende do desenvolvimento de cada pessoa. Mas se a pessoa tiver bom condicionamento físico e se dedicar, dá para formar com um mês”, garante Kochise Ramos, de 24 anos, paraquedista e gerente operacional em Guarapari.
O curso completo exige que o atleta tenha domínio de oito tipos diferentes de salto e aprenda a ter controle de suas ações no céu, mantendo-se calmo em caso de algum contratempo. Comprar um paraquedas, no entanto, só é recomendado depois de ter, pelo menos, 50 saltos no currículo.
“Cada nível de salto é um tipo de movimento diferente que ao aluno aprende. No primeiro a pessoa aprende a comandar o paraquedas e estabilizar o corpo no ar. Depois aprende ir para os lados, para trás, para frente, e realmente flutuar no céu. O último salto ela dá um mortal sozinha no ar. No paraquedismo tudo leva tempo, porque em em queda livre tudo precisa ser automático na cabeça do paraquedista, ele precisa saber agir rápido. Para poder saltar com uma câmera, por exemplo, é preciso ter no mínimo 250 saltos. Para ser tandem (saltar carregando outra pessoa) só depois de 500 saltos. Hoje o esporte é muito seguro”, conclui Kochise.
Aventura viciante
Durante o Boogie de Reveillon, evento que marcou a abertura das atividades em Guarapari, foram pelo menos 60 saltos por dia. Durante uma semana, passaram por lá pessoas de diferentes idades e dos mais variados lugares do Brasil. Gente como a Camila Freitas, de 27 anos, que saiu de São Luís, no Maranhão, para conhecer o Espírito Santo pelo céu de Guarapari.
“Nunca tinha saltado. Esse sempre foi um sonho, um desejo meu. Meu esposo é paraquedista, e a gente veio aqui só para experimentar esse momento, que é algo único. Como eu tenho um afinco por esportes de aventura, não fiquei nervosa. Essa emoção de viver um momento único supera o medo. Quando você está lá no alto e vê uma imagem maravilhosa, você esquece o resto”, afirma ela, que não conteve a emoção durante o primeiro salto.
“Duas palavras resumem: gratidão e felicidade plena. Você olha a paisagem lá de cima e se sente grato pela vida, pelas pessoas que estão com você e pela oportunidade de viver aquele momento. Eu fiquei tão feliz, que chorei. Agora vou fazer o curso”, contou.
O marido de Camila, Murilo Silva, de 36 anos, é paraquedista há quatro anos. Apaixonado pelo esporte, ele diz que a aventura é viciante e coloca Guarapari entre os lugares mais bonitos do Brasil.
“O paraquedismo é igual cachaça, tem gente que prova e não gosta, tem gente que vicia. Eu viciei no esporte. A adrenalina, a sensação de liberdade, voar, ver o vento batendo no rosto a 200 km/h, é a melhor sensação do mundo. Estou com 322 salto agora. Já saltei no Brasil inteiro, e o visual de Guarapari é extremamente mágico, único”, definiu.
“Experiência incrível” (Depoimento da repórter)
“Chegar a 12 mil pés (4 km) de altura a bordo de um caravan preto, onde cabiam apenas o piloto e mais 14 saltadores foi a parte mais fácil da aventura. Foi quando a porta do avião se abriu, e eu pude sentir o vento forte e gelado (embora estivesse um solzão lá em baixo), que o frio na barriga cresceu. Pular também não deu medo, e para isso vale a velha dica: não olhe para baixo! O susto veio na queda livre, com quatro piruetas no ar, um vento de 240 km/h no rosto e a sensação de quem ‘faltava ar’. A força do vento era tanta, que respirar ficou difícil. A pressão no ouvido durou o dia inteiro. E a vista daquele céu azul “colado” com o mar jamais será esquecida.
Quando o paraquedas abriu, e o coração e a respiração voltaram ao ritmo normal, me vi diante de uma paisagem difícil de descrever. Nosso “Espírito” aventureiro e Santo carrega imagens únicas, que a gente tem mania de não valorizar. Passear tendo a praia e uma cidade inteira de baixo dos pés é das experiências mais incríveis que eu já vivi.”
Serviço
Salto duplo: de R$ 840 a R$1.350
Curso de paraquedismo: R$ 6 mil, com equipamento incluso
Quando: sextas, sábados e domingos
Onde: Aeródromo de Guarapari
Paraquedas: R$ 15 mil, recomendado comprar apenas após 50 saltos
Agendamento: (27) 98141-6160 ou www.paraquedismocapixaba.com.br