Em Colatina, 10 pontos avaliados apresentaram valores acima do permitido para ferro e manganês
Na terça-feira (11), o segundo estudo da série – Contaminação por metais pesados na água utilizada por agricultores familiares na Região do Rio Doce – foi divulgado pelo Greenpeace. Este, feito em duas localidades mineiras e também em Colatina, no Estado, sob coordenação do professor João Paulo Machado Torres, do Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Segundo o Greenpeace, a realidade encontrada foi de agricultores usando água sem saber que estão com altos níveis de ferro e manganês. Em geral, a mesma para a irrigação é usada para beber. Em Colatina, 10 pontos avaliados apresentaram valores acima do permitido para ferro e manganês.
Para saúde, o risco é de acumulação desses metais no organismo ao longo do tempo, considerando as altas doses a que as pessoas estão expostas. O manganês pode causar problemas neurológicos, com sintomas da Síndrome de Parkinson. Já o ferro, em quantidades acima das permitidas, está relacionado a problemas enzimáticos que danificam rins, fígado e o sistema digestivo.
“Após o desastre, a lama se transformou numa poeira muito fina, que também pode ser inalada. A absorção pulmonar acaba sendo mais eficiente para o manganês”, diz o pesquisador André Pinheiro de Almeida.
“O quadro dessa tragédia deixa uma cicatriz. As questões de água e saneamento precisam ser levadas a sério. Será que essas pessoas não se envergonham do que fizeram?”, questiona o coordenador do estudo, João Paulo Machado Torres.
“É uma água de péssima qualidade, com gosto e cheiro ruins, que inviabiliza o plantio de muitas espécies. Elas morrem logo após as regas ou não se desenvolvem bem”, informa Almeida.
Fica constatado, portanto, afirma o Greenpeace, que a empresa Samarco e suas controladoras Vale e BHP necessitam arcar de maneira responsável com os estragos feitos. Ainda que a barragem tenha se rompido em novembro de 2015, os danos continuam afetando a população até hoje. “O metal não vai deixar de ser metal nem sair do rio sozinho. A cada chuva, mais desses contaminantes que estão acumulados nas margens vão parar nas águas”, alerta.
“A contaminação por metais pesados pode ter consequências futuras graves para as populações do entorno, que necessitam de suporte e apoio pós-desastre. Isso deve ser arcado pela empresa e monitorado pelo governo brasileiro”, defende Fabiana Alves, da Campanha de Água do Greenpeace Brasil.