Especial – Colatina – Do pai ele não herdou a carreira política mas, além do nome, certamente a coerência nas ações. Moacyr Dalla Júnior, ou simplesmente “Moá” continua empreendendo além do cartório de notas e ofício, a paixão pela música que ajuda a executar no Liverpub, uma casa especializada para amantes do bom e velho rock roll, bem como em novos e ousados projetos.
Filho do saudoso senador Moacyr Dalla e de dona Lúcia Resende Dalla, Moá recebe os jornalistas Vicente Mendes e Carlos Madureira em seu escritório no Cartório de 1º Ofício da família, ali na principal avenida de Colatina, na avenida Getúlio Vargas. Curiosamente, foi ali que seu pai, como presidente do Congresso Nacional chegou de Brasília, para ser recepcionado por uma legião de amigos, correligionários e simpatizantes, na década de 80.
Cerveja artesanal
Um desses empreendimentos, e que será em breve inaugurado, vai reunir os amantes da famosa mistura dos ingredientes: Água, Malte, Lúpulo e Fermento. Mas Moacyr não trata do negócio como simplesmente fabricar cervejas ou chopp. Ele quer agregar ao local um fator primordial: a boa amizade e o prazer de degustar um produto que alie alegria e satisfação.
Rádio do Rock
Em tempos de sertanejo universitário e ritmos voltados ao funk e rap, outra grata surpresa nos apresenta Moacyr Dalla Júnior. Desta vez, algo que ele sempre sonhou se tornou realidade pela transmissão via frequência modulada da emissora que ele tanto admira.
A rádio que só executa melodias do velho rock rool, é o carro chefe da Rádio do Rock que opera em 87,9 MHZs. Nesse sentido, orgulhosamente fala que a emissora é uma alternativa em tantos ritmos musicais que se apresentam nas rádios locais.
Assim como os tradicionais pubs ingleses, o Liverpub é um negócio familiar, e que tem por tradição entreter e divertir. Tudo começou quando Moá e seu filho Bruno, ambos apaixonados por Beatles, decidiram montar uma casa em Colatina para os amantes do bom e velho rock’n’roll.
Filial em Vitória
A ideia do negócio era criar um lugar tão divertido que os próprios donos frequentariam caso fossem clientes. Um ambiente informal, mas de qualidade. Assim, aliando a arquitetura dos pubs à boa música e culinária especial, em 2008 nasceu o Liverpub Music Place.
Após anos de sucesso em Colatina, o pub ganhou uma filial em Vitória, um verdadeiro pedacinho da Inglaterra comandado pelo casal Bianca e Renato. Bianca, filha de Moacyr, já trabalhava na produção das festas de Colatina e trouxe suas referências de decoração e gastronomia. Sempre em busca de novidades e melhorias, ela dá um toque especial à casa.
Nada em política partidária
Moacyr Dalla Júnior fala com saudosismo dos pais já falecidos, mas em especial do pai. Recorda com prazer dos bons momentos vivenciados pelo senador Dalla que venceu cinco eleições, passando de deputado estadual e federal até se tornar o presidente do Congresso Nacional.
Quando indagado se não quis participar do processo eleitoral, afirmou que não foi por falta de convites e sim por gratidão. Explicou que não teria sido coerente participar de uma disputa, tendo tantos amigos que pleiteavam os mesmos cargos: “gratidão é o único sentimento que não tem vencimento” afirmou ele que enaltece estar sempre grato por aqueles que ajudaram a eleger seu pai em tantas campanhas.
Moacyr Dalla – a trajetória de um colatinense na política nacional
O senador Moacyr Dalla venceu todas as eleições que disputou e inclusive a que o levou a presidir o Congresso Nacional. Entre tantas glórias no comando da maior Casa de Leis do país, está a sessão que presidiu quando da votação da emenda do deputado Dante de Oliveira que ficou famosa como a “Diretas Já”, pela Câmara dos Deputados no dia 25 de abril de 1984.
A matéria tinha por objetivo reinstaurar as eleições diretas para presidente da República no Brasil, através da alteração dos artigos 74 e 148 da Constituição Federal de 1967 (Emenda Constitucional nº 1, de 1969), uma vez que a tradição democrática havia sido interrompida no país pelo governo militar de 1964.
O ex-senador Moacyr Dalla, faleceu na noite de um domingo, 20 de agosto de 2006 em Guarapari (ES). Foi sepultado na manhã do dia 21, no cemitério do distrito de Itapina, na cidade de Colatina (ES). Dalla, que tinha 80 anos, foi vítima de um ataque fulminante do coração enquanto passava o fim de semana em sua casa de praia em Guarapari.
Foi senador no período de 1979 a 1987 e o único capixaba a presidir o Congresso Nacional. Antes de chegar ao Senado, o advogado cumpriu três mandatos como deputado estadual (de 1962 a 1974) e um como deputado federal (de 1975 a 1979). Ele também presidiu o Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves presidente da República em janeiro de 1985.
Coube a um de seus filhos, narrar peculiaridades do pai. Moacyr Dalla Júnior falou da trajetória do senador que vivia uma vida simples e que jamais deixou que o poder extrapolasse o direito das pessoas. Segundo Moacyr Júnior, depois de eleito presidente do Congresso Nacional, seu pai foi enviado para ocupar a residência oficial da presidência do Senado, na região dos Lagos. Fumante inveterado, o senador Moacyr Dalla, ainda na residência nova que mal conhecia, saiu certa noite pelos jardins para simplesmente fumar um cigarro.
Logo deparou-se com um dos seguranças que faziam o plantão e que não conhecia o novo presidente do Congresso. Imediatamente foi barrado pelo oficial de vigilância e de nada adiantou dizer que era senador e novo ocupante daquele imóvel.
Pacientemente, sentou-se próximo a uma das árvores do imenso jardim, aguardando que alguém viesse para confirmar sua história para a segurança, fato que posteriormente veio a ocorrer, como conta Moacyr Dalla Júnior.
Presentes não aceitos
Seu pai quando investido do cargo de presidente do Congresso Nacional, muito foi procurado para saber se aceitaria alguns “presentes”. O homem honrado forjado nas plagas colatinenses sempre se manteve irredutível quanto a receber homenagens e principalmente “agrados”.
Segundo Moá, não foram poucos os que tentaram “agradar” seu pai com presentes. Chegou-se a serem lhe enviados, carros de modelos luxuosos, apartamentos em Vitória e até uma lancha. O velho senador Dalla, sempre quando inquerido se aceitaria tais presentes, logo os dispensava e tratava de mudar de assunto. Curiosamente, poucos dias de sua morte em Guarapari, teria ido a uma concessionária, onde adquiriu um veículo que nem chegou a utilizar. Isso, depois de alguns anos, longe da política.
O senador Dalla
Moacir Dalla nasceu em Colatina (ES) no dia 10 de março de 1927, filho de Jacó Dalla e de Maria Mourão Dalla, uma típica família de libaneses radicados no Brasil. Bacharel em direito com especialização em criminalística pela Universidade Federal do Espírito Santo em 1953, tornou-se oficial do registro público e tabelião. No pleito de outubro de 1962, elegeu-se deputado à Assembleia Legislativa de seu estado na legenda da União Democrática Nacional (UDN), assumindo o mandato em fevereiro de 1963.
Dalla foi casado com Lúcia Resende Dalla, irmã de Eurico Resende, governador do Espírito Santo (1979-1983), com quem teve quatro filhos. Publicou importantes pontos de vista em: O novo Espírito Santo, Temas de um Parlamentar, Primeiros passos até a Vitória, Direito e Democracia Social na atualidade brasileira.
Vice-presidente da Assembleia de 1964 a 1965, em conseqüência da extinção dos partidos políticos pelo Ato Institucional nº 2 (27/10/1965) e da posterior instauração do bipartidarismo, filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de sustentação ao regime militar instalado no país em abril de 1964, em cuja legenda reelegeu-se deputado estadual nos pleitos de novembro de 1966 e 1970. Presidente da Comissão de Justiça da Assembleia Legislativa capixaba, de 1971 a 1974 exerceu o cargo de secretário estadual de Serviços Públicos Especiais.
Nas eleições de novembro de 1974 elegeu-se deputado federal pelo Espírito Santo na legenda da Arena, assumindo o mandato em fevereiro de 1975. Ainda em 1975, integrou a Comissão de Finanças, foi suplente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados e vice-líder do governo nessa casa legislativa.
Em 19 de setembro de 1978, concorrendo na sublegenda de Eurico Resende, seu cunhado e então candidato a governador do Espírito Santo (1979-1983), elegeu-se indiretamente senador pelo Espírito Santo. No dia seguinte ao fim de seu mandato na Câmara dos Deputados (31/1/1979) assumiu uma cadeira no Senado Federal, onde integrou as comissões de Constituição e Justiça e de Legislação Social e foi suplente da Comissão do Distrito Federal. Com a extinção do bipartidarismo em 29 de novembro de 1979 e a consequente reformulação partidária, filiou-se ao Partido Democrático Social (PDS).
Na foto – Geraldo Pereira, Artur Gherard, Moacyr Dalla e Syro Tedoldi.
Entre 1979 e 1982, exerceu a vice-liderança da maioria no Senado e foi nomeado vice-presidente da casa em 1983. Com a morte de Nilo Coelho (PDS-PE), então presidente do Senado, em novembro desse ano, Moacir Dalla foi eleito para o cargo, conseguindo com isso 2/3 dos votos. Ao assumir a presidência do Senado, recebeu duas prerrogativas: presidir os trabalhos do Congresso Nacional e o Colégio Eleitoral que iria escolher o próximo presidente da República. Na sua gestão presidiu a sessão do Congresso que aprovou o Decreto-Lei nº 2.065, alterando a política salarial.
Em 15 de janeiro de 1985, presidiu a sessão do Colégio Eleitoral, reunido para escolher o sucessor do presidente da República João Batista Figueiredo e que elegeu Tancredo Neves, candidato da frente oposicionista Aliança Democrática, uma união do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) com a dissidência do PDS abrigada na Frente Liberal, derrotando Paulo Maluf, candidato do governo militar. Contudo, por motivo de doença, Tancredo Neves não chegou a ser empossado na presidência, vindo a falecer em 21 de abril de 1985. Seu substituto no cargo foi o vice José Sarney, que já vinha exercendo interinamente o cargo, desde 15 de março deste ano.
Como senador, Dalla fez viagens de estudos ao Japão, Filipinas, Hong Kong, Estados Unidos, Suíça, Grécia e outros países da Europa. Deixou o Senado em janeiro de 1987, ao final da legislatura. Abandonando a carreira política, reassumiu as funções de tabelião em Colatina.
Os capixabas que trafegam pela Terceira Ponte ligando os municípios de Vitória a Vila Velha, a maioria não tem conhecimento, mas ali em um dos pilares da importante estrutura de ferro e concreto, está uma placa que reporta o distante 26 de novembro do ano de 1984.
Nesta data e nas presenças do então governador do Estado, Gerson Camata e do presidente do Congresso Nacional, está impresso que foi reiniciada a obras daquele empreendimento, um verdadeiro marco para moradores dos dois municípios, bem como de outros que dele se servem como meio mais prático de acesso.
No Cartório pertencente à família Dalla, chama a atenção entre tantas honrarias concedidas ao ilustre senador colatinense, um bilhete escrito pelo então ministro do Planejamento Delfim Netto. Nele, o Ministro avisa Moacyr Dalla de que em breve ele terá boas notícias sobre seu pedido, referente a construção da Terceira Ponte.
Era um homem sábio, que amou os capixabas e em especial os colatinenses. Despediu-se da vida pública da mesma maneira como adentrou: simples e competente, predicados herdados na infância e adolescência, vividas nas plagas de Baunilha, sua terra querida e jamais esquecida.